09/03 – Precisa de dinheiro para criar ou expandir seu negócio?

Existem hoje 500 plataformas virtuais mundo afora destinadas a captar dinheiro para financiar projetos ou startups. Essa modalidade de financiamento coletivo, conhecida como crowdfunding já materializou 35 mil projetos criativos graças à contribuição de 3 milhões de pessoas.

Esse modelo inovador também é citado com frequência como um canal prático para viabilizar os sonhos de empreendedores em países pobres — caso de startups de tecnologia em Nova Delhi, fundadas por jovens indianos sem capital.

equity crowdfunding, como é chamado o financiamento coletivo de startups, começa a ganhar espaço também no mercado brasileiro, uma vez que a modalidade foi normatizada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). 

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“Estimamos que nos próximos dez anos a modalidade deverá movimentar até R$ 1 bilhão no país”, afirma Frederico Rizzo, idealizador e cofundador da Kria (antiga Broota), plataforma virtual criada em junho de 2014 para aproximar empreendedores de investidores, sejam eles empresas ou pessoas físicas.

Desde então, 45 empresas levantaram R$ 16,537 milhões por meio da Kria, sem necessidade de gastar saliva para tentar convencer os investidores a apostar seu dinheiro, nem bater à porta de fundos de venture capital. O investidor escolhe no site o projeto que melhor lhe convém. 

Para as startups, o processo é relativamente simples. Devem se cadastrar na plataforma, preencher o modelo de requisição da CVM e deixar disponível na plataforma uma apresentação formal de plano de negócios. Quando surgem interessados, a startup é avisada sobre a opção de investimento.

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Para mitigar o risco gerado pela inexperiência, existe na Broota a figura do investidor-âncora, um profissional equipado para liderar os menores, e ainda servir de mentor para os empreendedores iniciantes.

Para quem investe, o retorno pode vir de três formas. Primeira: por meio da venda de títulos ou ações quando a empresa valorizar – o que permite à startup realizar uma nova rodada de captação. Segunda: pelo pagamento de dividendos, proporcional ao valor investido.

Finalmente, há a opção de oferta pública no Bovespa Mais, um segmento voltado às empresas menores que querem entrar na Bolsa gradativamente, para ganhar visibilidade.

Quem aporta dinheiro recebe títulos de dívida conversível. Desta maneira, o investidor se torna uma espécie de “credor” da startup, podendo transformar o crédito em participação acionária.

“A garantia do investidor é que ele não perderá mais do que o recurso investido”, diz Rizzo. Se algum problema ocorrer com a empresa, as perdas desta não afetarão seu patrimônio pessoal.” 

Veja no site da Kria o passo a passo para participar de um processo de captação via financiamento coletivo, seja como startup ou investidor. 

VISÃO DE LONGO PRAZO

Entre as empresas que já passaram pelo processo de captação está a própria Kria que, pelos serviços prestados, recebe um percentual que pode variar de 1% a 7,5% dos valores captados pelas startups listadas na plataforma.

Na estreia, quando ainda era Broota, a plataforma levantou R$ 200 mil. Em uma segunda rodada no início de 2015, mais R$ 500 mil – uma valorização de 150% em apenas sete meses. 

Em 2017, o fundo Leblon Equities adquiriu 10% da antiga Broota Brasil e, em março último, ao reformar sua marca para Kria, a empresa teve sua terceira rodada de captação aberta após a entrada do novo sócio.

“É um mercado secundário, mas que se recupera para o investidor que faz sua aposta olhando cinco, dez anos ou às vezes um pouco mais à frente”, diz Rizzo. 

Outras startups viabilizadas dessa forma são a Timokids, que produz um aplicativo de histórias infantis (R$ 200 mil), a Impact Hub/Florianópolis, espaço de coworking (R$ 170 mil) e o Mercode, que criou um aplicativo de compras pelo celular (R$ 150 mil).

A Cremme, loja de móveis e utensílios de alto padrão, começou a operar no e-commerce e obteve dinheiro para se expandir também com lojas físicas.

Em outubro de 2014, captou, via plataforma, R$ 100 mil na primeira rodada em oito dias, de acordo com seu presidente Pierre Colnet (à dir., na foto que abre esta reportagem, ao lado do sócio de Hadrien Lelong).

Com isso, conseguiram aumentar o leque de produtos, ampliar a força de vendas e ainda abrir uma loja em Pinheiros. Numa segunda rodada, a expectativa é captar R$ 250 mil e chegar a oito lojas físicas nos próximos quatro anos.

Para Colnet, essa é uma maneira rápida e inovadora de levantar investimentos, que envolve contrato favorável aos empreendedores. 

Há também o caso da Pet Delícia, que produz alimentos naturais para cães e gatos, e mantém um site de vendas com itens próprios da marca para pet shops de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Em março, a Pet Delícia se submeteu a um processo de captação de R$ 300 mil e já está próximo de atingir sua meta, de acordo com Anirudh Deb, diretor de operações.

“O objetivo é capilarizar ainda mais a venda de produtos 100% naturais para os pets em outras capitais”, diz Deb. “Há quase 40 mil pet shops no Brasil, mas nossa marca está presente apenas em 300.”

 

BROTA UMA IDEIA

Atuante em iniciativas empreendedoras desde que cursava a FGV-EASP, e após cinco anos dedicado ao empreendedorismo social, Rizzo se juntou à Mãe Terra, empresa de alimentação natural viabilizada por meio de fundos de private equity.

Foi em 2012 que ele teve a ideia de criar um site em parceria com os amigos Ricardo Politi (hoje no conselho da Kria), Daniel Sousa, com quem divide hoje o comando da empresa, e Camila Nasser, que ainda é colaboradora da plataforma.

Nele, empreendedores listariam seus projetos e ideias divulgando-os para quem pudesse colaborar com a iniciativa, com dinheiro ou trabalho. A marca inicial, “Broota”, tinha origem no ciclo inicial de uma startup, o seed capital (ou capital-semente). 

 
 

O projeto ficou de lado quando Rizzo foi estudar nos Estados Unidos. “O equity crowdfunding surgia por lá, e a despeito da visão de que seria impraticável no Brasil, descobri que havia brechas que permitiriam a atividade.”

A princípio, a ideia era desmistificar a CVM como um “bicho-de-sete-cabeças”, associado à burocracia do mercado de ações tradicional. Ou ainda, acabar com dúvidas sobre como uma empresa limitada poderia fazer uma oferta pública.

Além de criar uma estrutura viável, a plataforma chegou com algo pronto, segundo ele, que permite que pessoas físicas também invistam em boas ideias e obtenham retorno com a monetização de uma startup.

“Quando criamos o título de dívida conversível em ações, vimos que a vantagem era que o sócio não correria risco no início, nem se responsabilizaria juridicamente pela empresa iniciante. Hoje, constatamos que a aposta foi acertada.” 

Flavio Augusto Picchi, advogado especializado em assuntos jurídicos para startups, alerta, porém, sobre o risco de se investir em empresas novatas, justamente pelo caráter de inovação e novidade. Em especial se for um pequeno investidor.

“Há quem acredite nesses projetos por fazerem sentido em nível pessoal. Porém, nesse momento de retração, vale segurar gastos e procurar investimentos de menor risco”, afirma. “Mas acredito que nos próximos dez anos o equity crowdfunding será a grande alternativa de financiamento de boas ideias”. 

Fonte: Diário do Comércio



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