11/05 – Mãe-Símbolo Amparense 2018: Sueli Aparecida Araújo de Oliveira

Mãe-Símbolo Amparense 2018: Sueli Aparecida Araújo de Oliveira

                                                  

A Associação Comercial de Amparo (ACEA) chegou ao resultado da 44ª Mãe-Símbolo Amparense. A agraciada deste ano, mais do que merecidamente, é a senhora Sueli Aparecida Araújo de Oliveira, no auge de seus 65 anos carrega no rosto um sorriso digno de motivar as pessoas por onde passa. 

Com uma história que emocionou aos jurados da ACEA, será ela a representante até o próximo ano, deste título que é considerado a maior honraria para mães no Estado de São Paulo.

O ano de 2018 trouxe incríveis histórias, recheadas de detalhes e com conteúdo que emocionou a todos que tiveram o privilégio de escolher a “Mãe do Ano”.

“O evento Mãe-Símbolo Amparense, ocorre ininterruptamente desde 1974 e é uma comemoração muito aguardada. Tenho um amor muito grande por ajudar na organização desta homenagem, pois minha avó Alzira Alves Roque levou o título em 1979 e minha mãe, Marlene Teixeira Roque Gallo, em 2009. Sei o significado disso para a família e para a escolhida, é uma emoção indescritível. Acredito que a melhor homenagem a gente faz em vida, com atitudes e no amor que demonstramos diariamente, assim como o Cosme, filho da senhora Sueli o fez, inscrevendo sua mãe em nosso evento”, disse a Coordenadora Comercial e de Marketing da ACEA, Karine Gallo.

Cosme, seu filho, ficou sabendo da notícia pelo telefone, na última terça-feira (08/05) e foi orientado a fazer surpresa para mãe. “Recebi a notícia e fiquei muito emocionado. Eu tinha esse desejo e a esperança de que ela fosse a escolhida, mas ouvir e imaginar ela sendo homenageada já é muito legal, é muito emocionante”, disse à nossa redação.

Sueli nasceu aos 13/09/1952, numa família tipicamente brasileira: sua mãe Palmyra era filha de imigrantes portugueses e seu pai, Aristides, negro. Ambos eram pessoas simples e sem muitas condições. Tudo na casa era conquistado com muito sacrifício e suor.

Filha caçula e única mulher, passou a infância na região da Avenida da Saudade – Amparo, dividindo uma pequena casa com os pais e os outros três irmãos: José Benedito (hoje chamado de Zé Cometa), Luiz Odair (músico conhecido na cidade por Lilo) e José Francisco.

Estudou até o 4º ano primário na escola Rangel Pestana e como tantos outros em sua época, não tinha condições para cursar o Ginásio.

Começou a trabalhar cedo, fazendo tricô (em máquina) para uma conhecida e se manteve neste trabalho por um bom tempo. Adolescente, na época da jovem guarda e do boom dos Beatles, era fissurada por música, um dos pontos altos da casa já que o pai tocava bandolim e os irmãos, violão. A ela restou cantar. Por alguns anos, foi maestrina de um coral juvenil espírita.

Entre as poucas paqueras juvenis conheceu o marido, Walter Roberto de Oliveira (por muitos, conhecido como Sodinha). Após o namoro e o noivado, se casaram em novembro de 1975. Um ano após ao casamento, ficou grávida do primeiro filho. Logo ao final do parto, foi avisada que ele nascera com uma pequena deformação congênita nos dois pés, o famoso “pé torto” e o tratamento (bem caro), devia iniciar imediatamente.

À época, o marido havia saído do emprego em São Paulo e passou a trabalhar em Amparo. Do dinheiro que recebia, quase nenhum chegava até ela, uma vez que ele gostava de jogar em apostas e passara a beber. O dinheiro para o tratamento foi conseguido com a ajuda dos pais do casal.

Quase três anos depois, ficou grávida novamente, e a ele deu o nome de Alison Roberto de Oliveira. Quando Roberto ficou um pouco maior, apesar dos protestos do marido, voltou a trabalhar como como faxineira em consultórios dentários.

O marido começou a apresentar as mãos trêmulas pela manhã. Então, virou rotina dele, passar no bar pela manhã para tomar uma dose de pinga para que o tremor passasse. Não demorou para que voltasse a beber constantemente. Novos desentendimentos surgiram e menos dinheiro em casa. Esse comportamento só acontecia em dias que ele bebia. Em outros dias, quando estava são, ou até mesmo pelas manhãs, era outra pessoa. No fatídico 26 de março de 1990, suicidou-se.

Os filhos tinham à época 13 e 09 anos. Foi a partir deste dia que Sueli passaria a ser, agora oficialmente, mãe e pai. Os três “sobreviventes da família” foram acolhidos na casa da mãe do marido de Sueli, pois era inviável continuar morando/dormindo no mesmo quarto onde ocorrera o suicídio. Em 1992, outro “baque” chegou até a família. O irmão “favorito” de nossa homenageada, faleceu. Sueli esmoreceu, sob forte depressão. Passou por tratamento médico e, aos poucos, foi se adaptando a nova realidade, retornando ao trabalho.

Com o passar dos anos, seu pai acabou esclerosando e não conseguia mais andar, passando à condição de novo filho de Sueli, que junto ao irmão dava banho, fazia a barba, levava passear na casa e contava histórias. Tudo isso antes de conseguir sair para trabalhar. Sua mãe, lúcida, começou a perder a visão devido à catarata.

Em 2003, treze anos após a morte do marido, perdeu o filho. Assim como é desejo dos filhos nunca perderem os pais, nenhuma mãe merece ver um filho seu morrer. Alison, que também passou a ser conhecido como Sodinha, tinha 23 anos na ocasião. A morte se ocasionou devido a um acidente de trânsito na estrada de Itapira.

Todo o sofrimento e tristeza precisaram ficar contido, uma vez que seus pais precisavam muito dela. Foram eles e todo o trabalho que demandavam que não permitiram que ela caísse novamente em depressão. Porém, seu pai faleceu no ano seguinte, oito meses após a morte de seu filho e, seis anos depois, o mesmo aconteceu com sua mãe.

Na carta, o filho, Cosme, pediu que a inscrição fosse lida com carinho pois acredita que a história de sua mãe representa muitas outras. Uma mulher trabalhadora, a da mãe que também é pai, a da mãe que perdeu o filho e a mãe que cuida dos pais.

 

SOBRE AS HOMENAGENS

MISSA: A Mãe-Símbolo 2018, Sueli, receberá a primeira homenagem neste domingo, na Igreja São Benedito, em uma missa que será realizada às 08h30.

JANTAR: Também receberá uma segunda homenagem durante o jantar oficial, que acontecerá no dia 18 de maio (sexta-feira), às 19h30, no Lions Clube de Amparo. Na ocasião, receberá a faixa de Mãe-Símbolo das mãos de Ivone Spinelli dos Santos, Mãe-Símbolo 2017, além de diversos presentes especiais. Em parceria com a ACEA, o Bougainville Hotel, está presenteando a Sra. Sueli com um dia com acompanhante em suas dependências, com todas as refeições inclusas.

A Associação Comercial de Amparo agradece às empresas que tornam possível esta homenagem: Bougainville Hotel Fazenda, Li-Vi Modas, Kativa´s, Lojas ED+, Andreta Yamaha, Good Frango, Supermercado Daolio, Magia da Beleza, Churrascaria Gaúcho Tchê Grill, Universo Consult, Solo Cotone, Disttine Modas, Pedrita, SICOMVIT, Jornal de Amparo, Jornal A Tribuna, Gráfica Foca e Lions Clube de Amparo.

 

Mãe-Símbolo Amparense: “Porque a melhor homenagem, a gente faz em vida!”

 

Confira a carta, na íntegra, abaixo:

 

CONCURSO MÃE SÍMBOLO 2018

Em 26 de março de 1990 meu pai se suicidou. Eu tinha na época 13 anos e meu irmão 09. Foi a partir daquele dia que minha mãe passaria a ser também meu pai. Faz anos que eu ensaio para escrever a história dela. Este aparentava que não seria diferente. Mas qual a dificuldade?

Várias! Como contar a história de uma pessoa com todas as suas nuances? Como mostrar a sua garra e dedicação? Como falar de seu exemplo de superação? Como deixar claro que esta história é representativa e merece ser um símbolo entre tantas outras?

Minha mãe se chama Sueli Aparecida Araújo de Oliveira, e hoje tem 65 anos completos. Nasceu aos 13/09/1952, numa família tipicamente brasileira: sua mãe Palmyra era filha de imigrantes portugueses e seu pai Aristides negro. Ambos eram pessoas simples e sem muitas condições. Tudo na casa era conquistado com muito sacrifício e suor.

Filha caçula e única mulher, passou sua infância na região da Avenida da Saudade – Amparo, onde dividia a pequena casa numa vila com os pais e os outros três irmãos: José Benedito (hoje chamado de Zé Cometa), Luiz Odair (músico conhecido na cidade por Lilo) e José Francisco.

Estudou até o quarto ano primário na escola Rangel Pestana e como tantos outros em sua época, não tinha condições para cursar o Ginásio.

Começou a trabalhar cedo, fazendo tricô (em máquina) para uma conhecida e se manteve neste trabalho por algum bom tempo. Adolescente na época da jovem guarda e do boom dos Beatles, era fissurada por música, um dos pontos altos da casa já que o pai tocava bandolim, e os irmãos violão. A ela restou cantar. Por alguns anos, foi maestrina de um coral juvenil espírita.

Entre as poucas paqueras juvenis conheceu meu pai, Walter Roberto de Oliveira (por muitos conhecido como Sodinha). Após o namoro e o noivado, se casaram em novembro de 1975. Ela com 23 e ele com 29 anos.

Também vindo de família simples, ambos não tinham condições de ter uma casa própria e foram morar com meus avós maternos na rua Francisco da Silveira Franco, conhecida como vila Polito, bem próximo ao centro da cidade. Meu pai trabalhava em São Paulo, na FEBEM e não estava diariamente em casa e ela continuava trabalhando com tricô. Um ano após ao casamento, ela se descobriu grávida do primeiro filho: eu.

Nasci antecipadamente, no final de setembro, no dia dos santos que curiosamente eram de sua devoção e fui batizado assim: Cosme Damião de Oliveira.  Logo ao final do parto, ela foi avisada que eu nascera com uma pequena deformação congênita: ptc (famoso pé torto). E não somente um, mas os dois.

O tratamento, bem caro, devia iniciar-se imediatamente. Era indicado uma operação cirúrgica para seccionar ligamentos e tendões que estavam encurtados, imobilizando-os depois num tratamento com gesso seriados que deveriam ser constantemente trocados para acompanhar o crescimento das pernas. No meu caso foram por dois anos.

Minha mãe largou o emprego e passou a dedicar-se exclusivamente a mim. Começara ali, com grande susto e dificuldade, seu papel de mãezona. Era um trabalho árduo, dado que nesse primeiro período eu tinha nenhuma mobilidade e ainda carregava gessos pesados nas pernas. Ela sempre conta que, quando saiamos para a rua, fosse para ir ao médico, ou mesmo para comprar alguma coisa, as pessoas a paravam na rua para entender o que tinha ocorrido com a pequena criança com as pernas engessadas. Foram longos anos de dedicação que seriam seguidos pelo uso de botas ortopédicas pelo período de tempo necessário até que meus pés ficassem bons.

Meu pai havia saído do emprego em São Paulo e passara a trabalhar em Amparo. Do dinheiro que ele recebia, quase nenhum chegava até ela, uma vez que ele gostava de jogar em apostas e passara a beber. O dinheiro para o tratamento foi conseguido com a ajuda de meus avós – maternos e paternos.

Começaram a viver então aos trancos e barrancos, mas com o suporte dos pais, o tratamento ia acontecendo.

Quase três anos após meu nascimento, minha mãe se viu novamente grávida. Uma gravidez não esperada dado tudo o que ocorria, porém, nunca rejeitada. É dela que viria seu segundo e último filho, que se chamou Alison Roberto de Oliveira.

A dificuldade toda que vivia somada a seu espanto com os problemas da primeira gravidez fizera com que ela, logo que o bebê nasceu, antes de perguntar o sexo, quis saber se ele era perfeito. O médico dizia sim enquanto meu irmão dava seu primeiro choro. Ela chorou também.

Ela agora tinha dois meninos e seu amor de mãe se multiplicou.

Os primeiros meses foram tensos. Meu pai passara a contribuir um pouco mais, porém, o dinheiro não era suficiente. Quando meu irmão ficou um pouco maior ela optou, apesar dos protestos de meu pai, por voltar a trabalhar. Desta vez como faxineira em consultórios dentários. Era um trabalho de segunda a sábado, escalonado entre duas ou três clínicas, de tamanhos variados. Esse trabalho era escalonado com o papel de mãe que procurava exercer a noite. Virginiana como é, perfeição era um mero detalhe.

A medida que os meninos iam crescendo, quando a vida deveria começar a se ajeitar, devido aos desencontros meu pai e ela se separaram. Como muitas mulheres, ela teve então que assumir oficialmente o cuidado dos filhos e para complementar a renda, passou então a lavar e passar para fora.

Passados seis meses da separação, meu pai voltaria para casa, aparentemente mudado e começaram a viver de forma mais harmônica. Me recordo que, desde que ele voltara para casa, todo dia, logo cedo, ambos davam as mãos e faziam uma oração no pequeno altar que tinham no quarto. Ambos os filhos estavam na escola, ela deixou de lavar e passar para fora e começou a fazer também faxina em casas, onde o dinheiro era um pouco melhor. Isso ajudava na compra minhas botas ortopédicas, que tinham de ser trocadas com constância e cujo uso perdurou até os treze anos, quando finalmente tive alta.

Meu pai começou então a apresentar as mãos trêmulas pela manhã. Então, virou rotina dele, passar no bar pela manhã para tomar uma dose de pinga para que o tremor passasse. Não demorou para que essa dose aumentasse de volume e ele voltasse a beber. Com ele, novos desentendimentos surgiram e menos dinheiro em casa. Esse comportamento só acontecia em dias que ele bebesse. Em outros dias, quando estava são, ou até mesmo pelas manhãs, era uma outra pessoa. Mais arrumado, alguém com quem se podia conversar sem problemas.

Dada essa dificuldade toda, minha mãe precisou trabalhar mais e mais. Nós, quando estávamos em casa, éramos cuidados pela minha avó, mãe dela, porém ela nunca deixou de nos dar atenção. Entre as faxinas que agora fazia, dois dias da semana eram dedicados a casa de um de seus irmãos, o Lilo, com quem ela tinha uma ligação enorme, que a muito custo montara uma pequena mercearia na Avenida da Saudade. Era uma faxineira “de casa”, dessas que fazem tudo – de lavar e passar – até a limpeza geral. Quando possível ainda, era ouvinte de meus cinco primos.

A vantagem ali era que o “salário” ganho era muito maior e boa parte dele era gasta na própria mercearia. Chegava lá pela manhã e voltava no começo da noite, quando algum de meus primos ou mesmo meu tio a levava de volta para casa. Eram esses os dias em que meu pai mais encrencava. Ele passou então a chegar mais cedo em casa, logo após sair do serviço e dar uma passadinha no bar, apenas para estar lá antes dela e reclamar de seu atraso.

Morávamos em sete pessoas na casa: meus avós, meu tio José Francisco (que não trabalhava e também bebia), meus pais, eu e meu irmão. A fonte de renda maior estava concentrada em meu avô que mesmo aposentado e com 77 anos, ainda trabalhava, e em minha mãe. Sete pessoas dependendo desse esforço para sobreviver com um mínimo de dignidade.

A casa em questão era alugada e após longos anos vivendo ali, o dono a pediu de volta para que pudesse reforma-la para um de seus filhos. No final dos anos 80, não era tão fácil se conseguir alugar uma casa. Vimo-nos então em uma situação complicada. Aparentemente o dono nos deu um prazo não tão longo para que a desocupação fosse feita. Começava ali uma nova jornada, encontrar um local onde morar.

Somou-se a isso o surgimento de um câncer em meu tio Lilo, colocando todos em polvorosa. Nunca em nossa família alguém tinha apresentado a doença. Ele, que seria uma das possíveis pessoas a nos ajudar a alugar outra moradia, dado que era preciso de um fiador. Minha mãe, que era uma das pessoas de sua extrema confiança passou então, entre outros afazeres, exercer o papel de acompanhante de meu tio em suas viagens a Campinas para exames. Foi quem também o acompanhou quando de sua cirurgia.

Aos doze anos eu comecei a trabalhar na Guarda Mirim e passei a ajudar com algum dinheirinho em casa. Não que fosse muito, mas era a sistemática adotada pela minha mãe para que entendêssemos a importância do dinheiro e da responsabilidade. Meu irmão, três anos e meio mais novo, logo também seria um guarda mirim.

Faltava um mês para que meu irmão fizesse dez anos e alguns dias da Páscoa, quando novamente nossa vida mudou. Em 26 de março de 1990 meu pai se suicidou.

A coisa toda ocorreu dentro de casa, após retornarmos (eu, meu irmão e ele) de um passei na casa de minha avó (mãe dele). Minha mãe não conseguiu chegar mais cedo e acabou não indo. Ele foi para o quarto, onde dormíamos nós quatro, e desferiu um tiro na orelha.

O som ecoou pela casa, mas parecia como se algo tivesse caído no chão. Os vizinhos tinham ouvido o mesmo barulho de forma diferente. Minha mãe estava na cozinha preparando algo para comer e se dirigiu ao quarto, me perguntando ao passar pela sala, se eu ouvira algo. Chegando na porta do quarto, chamou por ele, que estava sentado na cama com a cabeça abaixada. Ele não respondeu. Ela caminhou em sua direção, já que estava de costas para a porta, e ao chegar perto ela viu o revolver no chão e o sangue gotejando.

Dona de uma lucidez correu, se viu sem chão, com dois filhos pequenos, os quais ela não queria que vissem a cena, correu chamar seus pais para ajudar e ao abrir a porta de casa para ir a vizinha pedir para chamarem a ambulância, se deparou com vários vizinhos para fora de suas casas se perguntando de onde viera o ruído de tiro. Lembro que, meu irmão na época, perdeu a fala, não conseguindo se comunicar. Fomos dormir na casa de uma tia, irmã de meu pai, enquanto minha mãe foi com ele de ambulância para Campinas, ver o que poderia ser feito.

Eu tinha na época 13 anos e meu irmão 09. Foi a partir daquele dia que minha mãe passaria a ser, agora oficialmente, também meu pai dado que durante a madrugada ele veio a falecer. Teve então que passar por uma série de processos para a investigação do crime.

Acabamos os três sendo acolhidos na casa de minha avó paterna, dado que era inviável continuar morando/dormindo no mesmo quarto onde ocorrera tudo. Ficamos por lá cerca de dois meses. Meus avós permaneceram na casa até as coisas se ajeitarem, mas esse tempo não se estendeu muito uma vez que o prazo para mudança estava terminando.

À época, minha prima, que passou a adolescência morando em casa, havia alugado uma casa para morar com seus irmãos no Jardim Primavera. A casa, bem grande, tinha um porão que viria a nos servir de moradia. Mudamos então, os seis para lá.

Em 1992, um outro “baque” chegaria até nós. Meu tio Lilo voltou a apresentar os sintomas do câncer e precisou novamente passar por tratamento. Minha mãe, que ainda continuava trabalhando em sua casa, ocupou-se novamente de lhe acompanhar. Novamente em março, no dia 29 agora, meu tio – seu irmão “favorito” – veio a morrer.

Foi ali, que a vi esmorecer. Mal comia. Não queria sair mais de casa, somente ficar deitada, entregue.

Era triste de ver. Uma pessoa que passou por tantas coisas, que fazia das tripas coração para os filhos, sobrinhos e outros, estar ali, desolada. Seu destino seria esse não fosse minha tia, irmã de meu pai, preocupada com a mudança repentina dela, em conseguir dinheiro para poder leva-la a um psiquiatra.

A contragosto foi e saiu de lá com o diagnóstico uma forte depressão.

Passou por tratamento médico, com medicamento e terapia em grupo. Aos poucos foi se adaptando a nova realidade. Voltou a trabalhar.

A vida aos poucos ganhou novos ares. Nós estávamos maiores e já a ajudávamos com nosso trabalho.

Meu avô, seu pai, ficou cego e começou a precisar de suporte para pequenas coisas dentro de casa.

Meu tio, após uma crise alucinógena devido ao consumo exagerado de álcool fora internado e deixara de beber.

Ainda morávamos no porão, mas por situação similar a anterior, teríamos que mudar de casa novamente. A nova casa era próxima ao Liceu – Rua Ângelo José de Araujo.

Com o passar dos anos, meu avô acabou esclerosando e não conseguia mais andar. Passou a ser o novo filho de minha mãe. Que cuidava dele com o máximo de amor possível, uma espécie de retribuição por tudo que ele fez para ela. Junto com meu tio dava banho, fazia a barba, levava passear na casa, contava histórias. Tudo isso antes de conseguir sair para trabalhar. Minha avó, lúcida, também começara a perder a visão devido a catarata.

Desde sua depressão, suas faxinas mudaram muito. Ela atendia principalmente pessoas da própria família ou conhecidos. O tempo gasto tinha que ser menor, pois seus novos filhos, exigiam grande atenção.

Em 2003, treze anos após a morte de meu pai, viemos a perder meu irmão. Assim como é desejo dos filhos nunca perderem os pais, nenhuma mãe merece ver um filho seu morrer. O Alison, que também passou a ser conhecido como Sodinha, numa espécie de continuidade do apelido de meu pai, tinha 23 anos na ocasião. A morte se ocasionou devido a um acidente de trânsito na estrada de Itapira.

Todo seu sofrimento e tristeza tiveram que ser contidos na ocasião uma vez que seus pais precisavam muito dela. Foram eles e todo o trabalho que demandavam que não permitiram que ela caísse novamente em depressão. Porém, meu avô, seu pai, veio a falecer no ano seguinte, oito meses após a morte de meu irmão.

Mudamos novamente de casa, para uma que ela mora até hoje, no jardim Figueira. Minha avó veio a falecer seis anos após meu avô e assim como ele passou a ser cuidado como um filho, precisando ser auxiliada na alimentação, no banho, para andar e deitar.

Diabética, hoje minha mãe tem uma vida mais regrada dado que não pode “abusar”. Trabalha como cuidadora de meu tio – irmão de meu pai – que fica sozinho em casa após a morte do irmão.

Gostaria que vocês lessem esta carta com carinho pois acredito que sua história representa muitas outras: a da mulher trabalhadora, a da mãe que também é pai, a da mãe que perdeu o filho, da mãe que cuida dos pais.



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