Pai Símbolo Resultado

Pai Símbolo Resultado

 

Nascido na cidade de Assis, interior de São Paulo, segundo ele no dia 21 de abril, mas registrado somente em 01 de maio de 1943, pouco se sabe de sua infância. Apenas de suas boas recordações durante o tempo em que tinha toda a família presente: pai, mãe e mais seis irmãos. E foi junto deles, além da família de seus tios, que o nosso avô, ainda na década de 40, sai a desbravar terras entre os estados de São Paulo e Paraná. Na época o governo concedia às famílias parte da terra que era explorada por elas, em troca de seus serviços. Conta nosso pai que um dos maiores sonhos do seu pai era conseguir um pedaço de terra e dela colher o sustento de sua família. E nosso avô chegou a conquistar sua terra após muito andar com os seus, mas, infelizmente, não teve tempo de usufruí-la, pois logo após o período da colheita veio a falecer de infarto.

 

E é nesta época que começa uma nova fase na vida do nosso pai: a fase sem a presença de seu próprio pai. Por ser muito novo na época, 13 anos, consegue apenas se lembrar que foi aí que tudo começou a desmoronar. Sem o chefe da família e com sete crianças pequenas para criar, sua mãe, analfabeta, vendeu, sem saber, a parte da terra que eles possuíam (com uma simples impressão digital num “papel” que ela não fazia ideia do que estava escrito). Ele se lembra que o dinheiro que ela recebeu era tão pouco que, dividindo entre os irmãos, sua parte só deu para comprar uma bicicleta. Sua mãe, nesta época, já apresentava pequenos sinais de transtorno mental e ele começaria a sentir na pele as primeiras dificuldades que a vida lhe reservava. Durante certo tempo, sem moradia fixa, sua mãe perambulava com ele e seus irmãos pelas ruas, procurando alojamento entre as cidades do Paraná. E aos poucos, a família foi se separando. Tempo de muito sofrimento, pois começa a se perder de alguns de seus irmãos para sempre.

 

Devido à baixa condição financeira de sua mãe, nosso pai, então adolescente, foi levado a morar no Exército juntamente com os dois irmãos mais velhos (desde crianças ouvíamos ele nos contar com muito orgulho de parte de sua vida no Exército, mas que, na verdade, viemos a descobrir mais tarde, era uma instituição para menores desabrigados, mantida pelo Exército). Passado um tempo, seus dois irmãos de lá fugiram, porém ele permaneceu até completar a idade para servir o exército, pois como ele nos conta, apesar de ser um lugar rígido, lá ele tinha moradia, comida e valores; assim, ele perdeu o contato para sempre com os dois irmãos mais velhos que haviam ficado junto dele. Assim que saiu do exército foi à procura de sua mãe querida para junto dela ficar, ela que vivia de casa em casa e às vezes, ainda perambulava pelas ruas. Ele começa, então, sua nova jornada: conseguir trabalho para sobreviver e cuidar de sua mãe, uma senhora, na época…tudo isso na década de 60.

 

Mas, infelizmente, não bastava apenas vontade de trabalhar… Era muito difícil conseguir emprego, ainda mais para um jovem sem experiência, sem moradia fixa e com a mãe para cuidar. Vários episódios de sofrimento e falta de perspectiva o rondavam na época, como este que ele nos contou: “Estávamos na rodoviária, eu e minha mãe, em uma cidade de São Paulo, nos preparando pra pegar o ônibus para o Paraná, (lugar onde ele pensava encontrar alguém da família que pudesse os ajudar). Tínhamos apenas a roupa do corpo, as passagens e uma pequena mala com pertences e um pouco de dinheiro. Disse para minha mãe que cuidasse da mala enquanto eu ia ao banheiro. Quando voltei, a mala havia sumido e minha mãe não sabia explicar o que aconteceu: fomos roubados! Neste dia dormimos na rodoviária e depois partimos, a pé, até chegar ao Paraná, apenas com a roupa do corpo. Depois de dias andando pela estrada, já não tínhamos mais sola no sapato e a fome era grande…”.

 

Após 5 dias de caminhada, conseguiram carona com um caminhoneiro e chegaram ao Paraná. A partir daí, qualquer trabalho era lucro. Mesmo que a troco de teto e comida principalmente para a mãe doente. Trabalhou na lavoura, como garçom, motorista, pintor, pedreiro, fez até trabalho escravo, sem saber. Tudo, nessa época, contribuiu para sua superação e aprendizagem, pois o estudo foi apenas básico.

 

Mas após inúmeros episódios de sofrimento e superação ele resolve voltar para São Paulo e, sob o manto de Nossa Senhora do Amparo, chega a nossa cidade onde foi amparado no final de década de 60. Aqui, com a ajuda de parentes, teve a felicidade de fixar moradia, e conseguiu emprego numa grande empresa da cidade. Começou como pintor e passou por vários cargos, sempre procurando aprender outras funções. E assim chegou ao cargo de “montador de silos” que ele orgulhosamente gosta de contar a todos. Dizem, até hoje, que foi um dos mais requisitados montadores de sua época, conhecido como “MacGyver” por todos, devido à sua habilidade em resolver os mais diversos problemas numa obra.

 

Mas sua maior felicidade foi conhecer sua esposa Maria Inêz, uma jovem de apenas 19 anos, com quem se casou em 04 de maio de 1974. E desta união nós nascemos, as 4 filhas: Lucélia, Patrícia, Daniela e Carolina. Aos poucos foram, unidos, formando sua família. Durante 35 anos ele trabalhou nesta empresa e, durante boa parte deste tempo, precisou viajar para sustentar sua família. Sua profissão demandava um grande tempo de permanência fora da cidade, do estado e até do país (algumas viagens duravam meses). Abriu mão de muitos momentos da nossa infância para que não nos faltasse nada, tanto que não pôde estar presente no momento do nascimento de duas de nós quatro. Ele longe, e sua esposa aqui, cuidando de nós, trabalhando em casa para ajudar nas contas, sendo responsável pela educação das filhas, pois fazia o papel de mãe e pai, mas mantendo a presença forte dele na casa. Ela sempre dizia: “… seu pai volta logo…” e como era bom quando ele chegava: sempre com 5 chocolates diferentes, um para cada uma de nós…, mas devíamos respeitar o que ele sempre dizia: “O Suflair é da mãe…” E foi com ela, sua esposa, que conseguiu constituir um lar, uma casa e uma família que nos orgulha tanto. Foi com ela que ele aprendeu a religião e a participar das missas. Missa esta que não perde nenhuma até hoje, todo domingo de manhã. E foram juntos que os dois conseguiram pagar os estudos das quatro filhas até se formarem. Criar quatro filhas não foi fácil, mas, apesar das dificuldades, nunca nos faltou o essencial: os valores e bons princípios que os dois, juntos, construíram: a honestidade, o trabalho, a perseverança e os valores Cristãos.

 

Hoje com 73 anos, aposentado, Dorival Lino fala pouco e gosta de ficar no seu canto, fazer suas palavras-cruzadas, consertar as coisas, construir móveis e até brinquedos para os netos, que são quatro. às vezes se deixa levar pelas emoções e começa a relembrar suas histórias, sempre com muita tristeza no coração. Mas foi graças a um destes desabafos que pudemos conhecer um pouco do que este homem viveu e passou até chegar aqui e ser o que é hoje. Nosso pai não teve estudo, mas tem uma facilidade ímpar com números, medidas e lógica; constrói coisas dignas de engenheiros graduados. Assim, com sua inteligência e principalmente esforço, conseguiu trabalho digno e, através dele, venceu, sem nunca esmorecer.

 

Não juntou fortuna, mas juntou nossa maior riqueza que é nossa família e, ao lado de sua esposa, deixou para nós não apenas a oportunidade de nos desenvolvermos física e intelectualmente, mas principalmente, moralmente através de seu exemplo de vida, para que pudéssemos também formar nossas próprias famílias.

 

Foi tudo muito duro e sofrido, mas hoje podemos dizer a ele que, sim valeu muito a pena. Muito obrigada, pai querido por tudo que fez por nossa família e, principalmente, por nunca ter desistido da vida.

 

De suas filhas que te amam muito: Lucélia, Patrícia, Daniela e Carolina.



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